“O esporte mudou a minha vida. Não me sinto um coitadinho porque não são as minhas pernas que escolhem e trilham o meu caminho, mas sim o meu coração”.
Essas palavras não são de nenhum astro mundial do futebol ou de alguma estrela do vôlei nacional. Mas são de uma grande atleta que talvez você não conheça. Ainda!
Ele é Gilberto de Almeida Costa, 48 anos, negro, simpático, agente de trânsito da empresa de transportes Grande Recife e uma das estrelas que compõe o time de basquete sobre rodas da Associação Desportiva de Deficientes Físicos de Pernambuco (ADDF-PE).
FOTO: HENRIQUE GONDIM |
Em vários momentos de uma conversa informal, Gilberto deixa claro que é feliz. Explicando o orgulho que tem da família formada pela Esposa Iranice da Silva Almeida, 46, e pelos três filhos Janaína da Silva Almeida, Mariana da Silva Almeida e Flávio José da Silva Almeida. Mas deixa claro que nem sempre foi assim.
Hoje Gilberto é cadeirante, pois perdeu o movimento das duas pernas ainda jovem. Ele tinha 20 anos quando estava na conversando com o próprio irmão José Matias de Almeida Costa na calçada da rua em que moravam, no bairro de Brasília Teimosa, atrás de um caminhão. “Até aí tudo bem!”, interrompe em tom de brincadeira. “O problema é que o motorista do caminhão não me viu sentado na traseira do veículo perto da roda”, conclui.
O motorista deu ré e passou em cima das pernas dele. Com o alarme feito, através de gritos, por José Matias, o condutor do caminhão ficou nervoso e conduziu o transporte à frente passando pela segunda vez sobre as pernas de Gilberto. Foi o começo do fim. Ou melhor, foi o início do recomeço.
Gilberto se emociona ao lembrar que na época do acidente ela estava namorando a esposa, tinha conseguido o primeiro emprego e já admirava e treinava com os amigos o basquete. Era um jovem cheio de desejos, gostava de conversar, ir à praia e tinha muitos sonhos, e um deles era ser jogador de basquete.
FOTO: EMMANUELLE CARNEIRO |
Depois de algumas cirurgias, muitas lágrimas, sofrimento e um longo período depressivo e pouquíssima vontade de viver as coisas mudaram. “Esse tempo ruim eu prefiro não lembrar. Foi tudo muito difícil para mim e minha família. Vocês só precisam saber que é muito importante o amor, o carinho, e o incentivo diário das pessoas que estão ao nosso redor. Foi uma batalha muito demorada, mas venci”.
Gilberto conheceu o time de basquete sobre rodas da ADDF-PE através de um colega que tinha um parente deficiente. Com o avanço do relacionamento com a equipe de cadeirantes, ele decidiu lembrar-se dos antigos sonhos e voltou a treinar. “já são 26 anos de casamento que tenho com o grupo. Foi através da nossa convivência que me reconheci como pessoa novamente. Eu tinha perdido o foco da minha vida, ficava esperando o pior”, afirma.
Atualmente, Gilberto é um atleta profissional do basquete sobre rodas e joga pelo time da ADDF-PE. Já participou de muitos campeonatos e conseguiu vários títulos junto com a equipe. Por enquanto o grupo não compete em nenhum torneio esportivo, mas continua treinando para conseguir mais títulos para esse elenco de estrelas.
Henrique Gondim